Não conhecia os rapazes Leonardo e Davi. Passei a conhecê-los melhor depois do ocorrido no Natal. Logo vi que eram alegres, parceiros, festeiros, simples e que amavam a juventude. Vi também o quanto eram queridos, adorados. Foi impossível, neste período entre Natal e Ano Novo, não visualizarmos alguma foto dos dois, os dizeres dos amigos, as preces, os compartilhamentos, os emoticons em forma de oração, enfim, foi uma onda de positividade que tomou conta de todos os corações.
No Natal, passei o dia rezando. Todos os dias, olhava logo as notícias para saber de seus estados de saúde. Era como se de repente eles fossem nossos familiares. A cada notícia mais animadora, tenho certeza que muitos corações, como o meu, sentiam um misto de alegria, otimismo e alívio. Logicamente, quem está distante sofre menos. Logicamente, não sabemos e nem nunca saberemos como estava (e está) o coração dos pais, irmãos, avós, tios, primos.
O que nos uniu foi a esperança. Esperança de ver estes jovens retornarem para Santiago e, um dia, contarem essa história a quem quisesse ouvir. Eu já estava pensando em alguma recepção surpresa que os familiares poderiam organizar para recebê-los com todo carinho quando saíssem do hospital. Pensei no quanto iriam gostar de ver os amigos. No quanto precisariam repousar e relaxar em suas próprias camas. A comidinha da mãe, um filminho na televisão, uma boa prosa. Pensei que eles poderiam dizer: “nasci de novo”. Depois de dias tristes, pensava eu, eles tinham que dar umas risadas, esquecer tudo isso. Pensei que um dia falaríamos: os guris de Santiago sobreviveram, como foram fortes! A gente cria frases prontas, monta cenários particulares, faz as próprias preces. Tudo, por que queremos finais felizes.
Mas, sabemos que algumas histórias não terão estes finais. Esta semana, as tristes notícias destruíram os nossos corações. Parecia que faltava algo na cidade, nas ruas. Olhava para o céu azul e suspirava fundo, como se aquele céu não desse conta de absorver a tristeza de um município inteiro. Ouvi carros com som alto e me pareceu que qualquer música não terá mais graça. Eu saí de carro e pensei que na véspera do Natal eles estavam por aí. Será que com amigos, no mercado, em casa, pra fora? De repente eu até passei por algum deles, mas não conhecia.
Conheci dois meninos em circunstâncias tristes e sei que muitos santiaguenses também. Que este afeto que criamos por eles e que de certa forma nos uniu, traga aprendizados, mais amor, mais empatia e muita vontade de viver.
Mesmo diante de tragédias, quero apenas conseguir acreditar em finais felizes. Quero desejar que as famílias que estão passando por fases assim, consigam esperar um ente querido com um bolinho, uns balões e muitos amigos para bater palmas. E, se o final feliz não vier, que consigamos absorver o acontecimento e o aprendizado que ele deixa. Desta tristeza, percebemos o peso do amor que une as pessoas; as belas atitudes dos amigos; a esperança que dá forças para viver.
Os rodeios, os campos, as plantações, os cavalos, as festas, podem ter perdido a cor, mas também são bonitas lembranças de histórias que foram felizes e que agora, certamente, estão em outro plano.
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